000. Introdução
O objetivo desta newsletter é organizar ideias sobre cinema com alguma frequência em um formato diferente do artigo acadêmico e do ensaio crítico. Escrever notas, hipóteses, observações que ainda não têm – e talvez nem tenham depois – um contexto bem definido.
De início, três tipos de postagem:
1. Textos sobre uma só obra – filmes de épocas, formatos e gêneros variados, mais algumas séries. Parte do que me intriga em cinema é essa variedade, e mais ainda, pensar os diferentes recortes lado a lado: filmes narrativos, documentais e experimentais, silenciosos e sonoros, conhecidos ou não, de ontem e de hoje. Os casos que borram essas fronteiras e que dificultam a aplicação de algumas noções devem surgir naturalmente.
2. Textos sobre um conjunto de filmes – seja por terem sido feitos no mesmo contexto, por integrarem o mesmo gênero, ou por compartilharem alguma característica temática ou formal. Essa última possibilidade soa um pouco mais teórica, mas talvez possa ter desdobramentos também na prática, afinal é a tentativa de pensar como certas questões criativas foram respondidas. Como determinado cineasta usa os planos de ponto de vista, por exemplo? Como certos filmes usam elipses, ou como representam as mesmas situações? A própria divisão entre prática e teoria (ou a ausência dela) é algo que me interessa bastante.
3. Textos sobre crítica – artigos, conceitos, autores, de cinema mas também de outras artes. A história e os problemas da crítica de cinema são úteis para desembaraçar um pouco os termos e argumentos em volta dos filmes. A literatura, a pintura, a música, por serem mais antigas, com bibliografias mais estabelecidas, e já terem lidado com vários dos mesmos problemas, são referências importantes em relação a isso. As discussões em torno do juízo de valor, sobretudo defesas e ataques polêmicos, praticamente não me interessam; ou ainda, me interessam apenas como problema crítico, que é como devem aparecer em alguns textos.
Esses tipos devem ser alternados: um texto sobre crítica deve seguir um texto sobre um filme, que deve seguir outro sobre um motivo formal e assim por diante. Também podem surgir textos em um formato mais livre. Imagino que isso torne a coisa mais agradável tanto para mim como para os leitores, já que permite uma certa variedade nas próprias abordagens.
A periodicidade será quinzenal. A tendência é que os textos entrem no final da primeira e terceira semana de cada mês. Estes são os textos principais, por assim dizer – os que estão garantidos. Outros, adicionais, podem entrar nas outras semanas, mas não sempre, e não devem alterar o calendário geral.
A maioria dos textos vai ser acessível somente aos assinantes pagos. A cada três ou quatro semanas, um texto deve ser aberto para os não-pagantes. Os adicionais, fora do calendário principal, devem ser abertos, exceto quando forem mais longos.
O valor é R$10 para a assinatura mensal e R$100 para a anual.
Junto com essa introdução entra o primeiro texto, sobre David Lynch e Kenneth Anger. Alguns outros já estão encaminhados:
A influência de Leo Spitzer e da análise estilística nos textos de P. Adams Sitney
Os usos do contraplano e do ponto de vista por Richard Fleischer
O deslocamento da violência em filmes de Luis Buñuel e Michael Haneke
A divisão entre “mentira romântica” e “verdade romanesca” por René Girard
A “Comédia Institucional” de Frederick Wiseman
Quatro formas de representar o pensamento (Hitchcock, Resnais, Godard, Brakhage)
A crítica retórica
Notas sobre The Wire
Algumas listas que criei no Letterboxd podem servir como referências de filmes, cineastas e temas que devem entrar em algum momento. Os meus textos acadêmicos estão no Academia.edu, e o que escrevo de crítica pode ser lido na Foco – Revista de Cinema, da qual também sou editor. São outras referências de objetos possíveis.
Além disso, pretendo usar a newsletter para anunciar cursos online. Costumo fazer uma lista no Letterboxd para cada um deles. O que deve acontecer em breve é um curso sobre Robert Bresson. Os assinantes pagos terão um desconto de 20% nesses cursos.
Quando Nabokov publicou as suas palestras sobre literatura – que eram extremamente pessoais, mas também rigorosas, até obsessivas na atenção ao texto –, ele se comparou a um detetive investigando “o mistério das estruturas literárias”. Por quê uma determinada obra é assim? Como ela foi composta? Por quê tem essa duração, essa estrutura? Por quê chega a tal solução em tal momento? Quais efeitos decorrem dessas escolhas, e que efeitos teria se elas fossem alteradas? São perguntas que podem servir como horizonte ao pensamento sobre uma arte. Um desafio aqui é tentar orientar os textos nessa direção.
É isso. Agradeço a quem tiver interesse para ler, assinar, e a quem puder divulgar.